segunda-feira, outubro 31, 2005

criado no campo (mimosa, a muuuuuuzinha inesquecível)

ao contrário do que minha aparência e o meu saber estar levam a crer, eu fui criado no campo.

se em termos de saúde isso foi bom (a alimentação é mais equilibrada, tem melhor qualidade, a fruta é fresca, o ar é puro) em termos sociais esta situação teve o seu preço.

quando se passam anos e anos em que as relações de amizade mais fortes que uma pessoa tem são com cabras, vacas e bois pode pensar-se que se está preparado para entrentar os respectivos homólogos da cidade, mas não é bem assim

por exemplo, quando travei conhecimento com as bem dispostas e saltitonas raparigas citadinas, reparei que elas não reagiam como as vacas lá da quinta, em primeiro lugar não gostam de usar chocalhos, depois não podia dar palmadas só porque me apetecia, não podia ver se já tinham leite, não podia assobiar e chamá-las de mimosa. e o pior de tudo, jamais podia ordenhar qualquer rapariga em plena escola, (em privado ainda apanhei umas quantas que gentilmente anuiram a esse pedido), quando por inocência uma vez o tentei fazer fui logo interpelado por diversos indivíduos, um deles membro da equipa de râguebi e irmão da suposta "vítima", chamaram-me nomes feios e o mano da sonsa ainda fez um "ensaio" comigo no chão macio do pavilhão da escola.

bastava dizer que um gajo só podia beber sumo que eu compreendia, não era preciso bater mas enfim na cidade nunca há tempo para nada, muito menos para explicações.

eu era um rapaz puro, pouco mundano, hoje já sei que um charro é "só um charro", que cocaína é bom e dá estilo, que as putas só o são porque têm uma estória triste e da qual não têm a culpa mas a desculpa, que um carro também um meio de transporte, e que um emprego tem o valor que a sua descriçao indicar, várias palavras em inglês é bom, uma ou duas em português nem por isso.

a cidade é boa se cosmopolita e o campo se rural, os subúrbios se sujos e a meio caminho de ambos.

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