sexta-feira, março 09, 2007

deus é uma mulher e está a conduzir, o mundo é a estrada no seu caminho

"cala-te só um bocadinho amor".

foi desta maneira fria, calculista, egoísta e autoritária que me sacudiram do quarto.

como todos sabem é inerente à condição de macho, a condição de líder ( ou simplesmente dono e senhor ) da relação.

e obviamente que uma situação destas não poderia passar sem uma decisão firme e que não desse aso a qualquer tipo de recurso ou pedido de desculpa.

a mão pesada do Macho teria de agir.

a decisão autoritária e irreversível que tomei foi como é óbvio a de me calar e cabisbaixo, sair do quarto, atravessar a casa na demanda de um dos animais de estimação que tenho e tanto prezo, uma gatinha de 4 meses.
apertei-a contra o peito e enquanto ela me lambia as lágrimas, eu contava-lhe o meu dia. os planos para o futuro, os meus sonhos. depois arranhou-me o raio da gata. se calhar estava a apertar com força ou então contra o sítio errado.

não foi bem isto que aconteceu mas quase.

o que se passou na realidade foi o seguinte.vim do treino da bola (até aqui sou um gajo normal ).chego a casa todo suado ( a patroa não tratou da mala p'rá bola ), e com um cheiro a cavalo bem vincado entro quarto a dentro e dou um beijo na maria. ( novamente tudo isto me parece bem principalmente a parte de entrar por um quarto a dentro ).

pois que quando ía começar a contar as estórias do treino ( dois gajos da minha equipa quase andaram à porrada ) oiço o hino à insensibilidade, a tal bandeira do autismo, essa canção do menosprezo " cala-te agora um bocadinho, amor"!

sim, cala-te que agora tá a dar a gala da rtp 50 anos.fiquei triste. triste e calado porque quando uma mulher manda um homem calar o melhor é não insistir, não vale a pena e as consequências podem ser graves. saí do quarto e ao atravessar a casa reparei no fedor que a casota das gatas emanava.

enquanto limpava os montes e montes de presentes que aquelas duas gatinhas fofas e queridas conseguem libertar em apenas dois dias ouvia-a a ela, à patroa autista, no quarto a rir.

ria enquanto dizia "este Ricardo é tão engraçado".

pensei no que me acontecera.

silenciaram o que me ia na alma, e enquanto limpava cócó, gargalhavam ruidosamente.

bem que a minha mãe me dizia, "estuda p'ra médico".

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