terça-feira, junho 27, 2006

a minha oportunidade

toda a gente tem coisas na vida que receia ou passava bem sem elas.

normalmente desses momentos de ansiedade, dificuldades extremas, surge o melhor de nós, a superação, o acreditar que tornado num eu sempre soube, a superação do rapaz que se torna Homem.

tal como toda a gente eu também tenho essas coisas e espero sinceramente conseguir um dia passar por um desses momentos sem ter de mudar para o outro lado da rua, simplesmente seguindo em frente.

e no outro dia isso quase me aconteceu.

estava a dormir quando de repende, uma voz em sobressalto, diz:
-acorda, levanta-te!

como estava a sonhar, acordei bem disposto com a certeza que o resto da frase seria "vá lá meu tigre, meu tractor selvagem, minha locomotiva sexual, levanta-te, que vais ter uma noite de sexo
inesquecível comigo e com mais duas gajas boas que estão mortinhas por te satisfazer até rebentares!".

pensei logo no azar que uma pessoa tem (esta semana tenho sentido uma forte pontada nas costas pois o tempo mudou e já se sabe, mas enfim um Homem tem de fazer sacrifícios e não iría ser aquela dor
forte, aguda, diabólica, capaz de imobilizar até um campino, que me iria parar.

no entanto as coisas raramente correm como se quer, e afinal o que se seguiu a "acorda, levanta-te" foi " epá levanta-te animal, tá ali um..." e neste segundo o meu coração parou, toda a minha vida passou diante dos meus olhos (para quê não sei), fiquei logo com a certeza que o que lá estava era um ladrão. fdx... um ladrão na minha casa, e logo eu sou o único homem presente... ó c'um caraças, isto quando uma pessoa nasce com azar não há nada a fazer, lá vou ter eu de enfrentar um gandim qualquer, profissional da desordem, devoto da violência gratuita, com um controlo remoto ou uma almofada ou assim.

de um lado um gajo com facas ou pistolas, mestre em 13 artes marciais, fisicamente indestrutível, do outro lado eu, que enfim... curto bué gelatina.

mas o coração lá tinha de voltar a bater, o mundo a girar, e então
ouvi o resto..."está ali um bicho na casa-de-banaho".

fuuuuuuuuuuuu!!!! que alívio! que alegria! que fixe!que... bicho? um escaravelho pequenino espero... de preferência velhinho.

e era mesmo isso, um bicharoco pequenino que não tinha mais de 1 cm de comprimento.

fiz um sorriso, e disse "o quê? estavas com medo daquilo?", soltei então uma gargalhada máscula, de seguida engasguei-me tossi um bocadinho, tomei o xarope e diriji-me para o pobre insecto quando... me lembrei que talvez fosse melhor ir buscar a vassoura só para poder equilibrar as coisas, entre o Senhor da seu Castelo (Eu!) e o tenebroso insecto com super-poderes im pressionantes como por exemplo subir paredes e até... voar!

esmaguei-o com a vassoura que tinha nas minhas próprias mãos! senti o seu corpo a estalar, o sangue a escorrer, a derrota no seu último olhar, e no derradeiro instante fiz questão de lhe dizer o meu nome, de lhe sussurrar o nome da sua esposa que seria a próxima vítima e que a sua filha amanhã já não iría à escola, isto é claro, enquanto repetidamente batia com a vassoura na parede e gritava estericamente "morre aranhiço estúpido, morrrreee!

fui simplesmente superior.

segunda-feira, junho 19, 2006

Twilight Zone. Eu estava lá !

Regressei hoje do Luxemburgo. O avião fez escala no Porto.

O avião vinha cheio de respeitáveis senhores de negócios, muito bem
falantes (tudo em francês, claro) e as suas conversas giravam todas à volta
de negócios de milhões.

Faltavam 30 minutos para chegarmos ao Porto, quando o comandante anunciou:

- Senhores passageiros, iniciámos agora a nossa descida para o Porto, onde
aterraremos às 13:13 hrs.

O anúncio do comandante funcionou como um click.

De repente, todos os respeitáveis senhores de negócios começaram a falar
Português, com um forte sotaque do nuórte, e todas as suas conversas
giravam à volta das suas hortas, couves e hortaliças. Como se não bastasse,
todos ficaram de bigode, incluindo as senhoras.

sexta-feira, junho 16, 2006

beijo sabor

quando me perguntam "então e que música é que tu gostas? gostas de tudo um pouco, não é?", respondo sempre "o que eu gosto é muito de pouco"...

das coisas que tenho certas em mim, ser do contra é sem sombra de dúvida uma delas... a não ser que alguém concorde, aí devo confessar que nunca fui pessoa de fazer muito finca pé sobre nada em especial.

eu era, sou e serei um teimoso silêncioso, posso até não pôr a burra nas coves por dá cá aquela palha se fazes o favor, mas quando isso acontece, então levo as coisas até à cegueira irracional e desconexa, só porque sim.

das memórias de infância que tenho lembro-me de uma vez comprar uns ténis... os primeiros que escolhi...

quando olhei para eles achei-os engraçados, mas quando a minha mãe me disse "esses não, são feios", percebi que aqueles ténis tinham de ser meus custasse o que custasse... para que o planeta continuasse a girar... eles tinham de ser meus.

ora como sou boa pessoa, preferi o bem da humanidade ao meu, e para que o mundo continuasse no seu rumo fiz a mim mesmo a jura de antes morrer ali na sapataria "Tonili - o mundo a seus pés" do que viver mais um dia sem aqueles ténis.

lembro-me que infelizmente os ténis não eram bem o meu número, mais exactamente, lembro-me de ter encolher os dedos dos pés quase ao ponto de estes terem de tocar o calcanhar, algo que me causava algum desconforto mas quando me disseram "acho que isso te está um bocadinho apertado, não?", o desconforto passou e eu prontamente respondi "não está não, aliás, os ténis servem-me que nem uma luva!"

só os calcei da loja até casa para mostrar que me serviam perfeitamente e bastaram aqueles 500 metros (de profunda dor e sofrimento e também de um sorriso de orelha-a-orelha) para ainda hoje ter os dedos dos pés com um curva, tal e qual as garras de uma águia.

enfim, acho que a diferença entre um homem de fortes convicções e um teimoso que nem uma porta vai apenas do número de pessoas que "ateimam" com ele, quantos mais melhor.

nada que um pouco de bom senso (por parte dos outros é claro) não resolva, por mim, respeito todas as minorais principalmente aquelas onde eu me insiro.

sexta-feira, junho 09, 2006

surf não é bem a minha onda

a portuguesidade é algo a que definitavemente já me afeiçoei.

devaneios racionais e justificáveis pela vontade diária que todos nós temos de perder a cabeça.

lembro-me como se fosse hoje... no início do ano decidi e de forma absolutamente irredutível:
-se calhar até ao final do ano vou comprar um carro... ou um carro ou uma mota... o que eu gostava mesmo era de ter um barco, isso é que era... um barco gigante, assim com um nome bué da coiso, que misturasse virilidade, aventura, mistério, e força bruta, e depois encher o barco de gajas bué da loucas, malucas mesmo, com olhos espectaculares, assim aqueles olhos verdes, redondos e arrebitados, e de tamanho 42... mas quer dizer... um carro também era giro... um carro ou uma mota... qualquer coisa.

como é óbvio na rescaldo desta conversa que tive comigo mesmo, ficou pouca coisa mas o que ficou foi o mais belo dos verbos, não, não é o verbo encarrapitasar, antes foi o verbo comprar... meu deus... que palavra bonita... comprar.

então na segunda-feira fui comprar um telemóvel, o v3 preto. (sempre que penso no v3 lembro-me da vez em que liguei para a tmn e perguntei se tinham o v3 black disponível a menina que me atendeu respondeu delicada e convitacmente "não, o v3 black não temos, o único que temos disponível é o modelo v3 noir").

fiquei contente, porém não fiquei feliz. ok comprei um telemóvel mas... quer dizer também não foi assim

um devaneio assim tão grande.

financeiramente a minha situação dificilmente poderia piorar. dificilmente também eu poderia preoucupar-me menos.

assim, quarta-feira comprei um carro.
estava feliz, estava contente.

tinha um carro novo nas mãos, um telemóvel novo para usar e uns dias antes tinha recebido um portátil no trabalho.

fiquei de barriga cheia e a arrotar a consumismo por impulso a tarde toda.

são os meus prontos e portantos a tomarem conta de mim, e a única justificação que tenho é que "no fim vai ficar tudo bem". por isso basta chegar até lá para sermos nós próprios, felizes, especiais e únicos.

sexta-feira, junho 02, 2006

cansaço impetuoso

ontem fui jogar à bola.

fui ali para os lados de belém, no campo do cif, contra uma equipa de futebol de onze.

habituados a treinar 3 vezes por semana, os rapazes da equipa adversária no que diz respeito ao preparo físico digamos que pareciam cavalos a correr sob o efeito drogas leves e pesadas enquanto que a minha equipa tinha a velocidade de uma tartaruga coxa, receosa e com enorme poder de indecisão.

o jogo começa.

sempre que um de nós tocava na bola lá vinham 2 ou 3 cavalos pressionar, para agravar a situação aqueles animais disputavam os lances de uma forma um pouco apelativa à selvajaria.

numa analogia os duelos pareciam ser entre um camião cisterna versus um gatinho recém-nascido que no preciso momento em que abre os olhos vê o tal camião cisterna a 200 à hora na sua direção e... volta a fechar os olhos.

não foi fácil mas durante os primeiros 20,25 segundos ainda consegui aguentar o ritmo de jogo embora a partir daí tudo fosse feito em esforço.

eles corriam mais que nós, muito mais que nós mesmo, eram mais fortes, tacticamente superiores, tecnicamente estavam acima.

nós tinhamos estilo.

e alguma inteligência. sendo que a ordem é mesmo estilo e depois inteligência.

é que um gajo até pode perder, um gajo até pode ser esmagado, um gajo até pode perder a namorada para o playboy que tinha a acelera na secundária mas desde que um gajo tenha estilo então está tudo bem.

e a minha equipa tem o estilo da squadra azzura, a capacidade futebolística das ilhas faroé e o um ego do tamanho do mundo.

o jogo começou e a malta aguentava-se como podia. bolas ao poste, a rasar a barra e algum tempo depois do início do jogo eles fazem o 1-0.

entusiasmados pelo golo começaram a dar baile.

os bois pensavam que estava tudo ganho. mas o futebol é um jogo imprevisível.

depois de fazerem o segundo (remate de trivela) e o terceiro (um belo golo de pontapé de bicicleta numa jogada que começou com um toque de calcanhar) disseram o que nunca se diz num jogo de futebol, "epá, se calhar é melhor trocar as equipas".

nós sorrimos (pelo menos os que ainda conseguiam sorrir) e respondemos "não é preciso, obrigado".

e não foi mesmo!
demos a volta e ganhámos 6-3!!!!

a correr um décimo do que aqueles meninos, mas muito mais inteligentes, demos a volta e mostramos que a sorte é a melhor coisa do mundo!

ninguém vê o ego de um homem, mas dependendo do seu tamanho o mundo pode ser pequeno e dominável.

6-3!
ainda nem estou em mim...