quarta-feira, novembro 30, 2005

o regabofe

aconteceu ontem, o reviver de uma época que todos recordamos com entusiasmo. os exames. quer sejam da faculdade ou da secundária os exames são sempre bons de recordar.

ontem, fui fazer o primeiro exame da faculdade, técnicas quantitativas. e que bom que foi recordar a sensação, aquela sensação ------>>> de que é impossível esquecermo-nos de algo pois não há nada para lembrar.

cheguei atrasado 2 minutos e entrei na sala a falar ao telemóvel, felizmente o professor chegou atrasado 5, ou seja cheguei 3 minutos antes da hora.

aquando da entrada na sala, recebi olhares do género "olha quem é ele, o desaparecido...", mantive a postura de quem sabe o que faz e tem tudo controlado, e enquanto falava ao telemóvel na sala de aula, pedi uma caneta emprestada para poder fazer o exame. normalmente esqueço-me sempre de qualquer coisa neste tipo de coisas, já fui jogar à bola e esqueci-me dos ténis, já fui fazer o exame de Direito e não levei o Código Civíl. meros pormenores.

sentei-me e o gajo que estava ao meu lado, claramente um indivíduo nervoso com a situação, engravatado, nos seus quarentas, todo limpinho, olha para mim de modo subserviente, olhos esbugalhados, a infância na expressão facial e pergunta naquele tom com que nós fazíamos as perguntas quando éramos putos e falávamos com alguém mais velho, mais forte e mais maior grande que nós, "tu não és do primeiro ano pois não?". sorri e respondi "não...estou só a fazer esta cadeira do primeiro ano mas já sou finalista" e só não lhe passei a mão pelo cabelo porque isso seria parvo e ainda estava sujeito a levar porrada. a verdade é uma coisa tão bela que só a mentira a consegue superar e ontem sentia que o mundo precisava de beleza, portanto menti, mas não foi por mim.

mas o que interessa é que de facto quando uma pessoa tem um ar inteligente, um aspecto de quem tudo domina é natural incutir nos outros a ideia de que estamos sempre no topo, de que somos seres sapientíssimos, é claro que o facto de não irmos às aulas como toda a gente faz também ajuda mas eu quero acreditar que ele viu em mim alguém incrivelmente inteligente, ou pelo menos um bocadinho coiso.

o professor chegou, distribuiu os enunciados, recebi o meu, olhei, sorri, olhei novamente, voltei a sorrir, ganhei balanço, e interiormente comecei a dar gargalhadas. mas gargalhadas daquelas --------> grandes, algures entre a situação cómica e o desespero. mantive a calma e só entreguei o exame no final do tempo.

como não sabia nada, fiz o que me pareceu melhor. à primeira pergunta respondi "impossível", eu sei que nos testes de números e tal há sempre uma pergunta que é impossível de responder (no meu caso eram todas mas enfim) arrisquei que era esta e acho que acertei. à ultima respondi "0", a pergunta era determine K e eu determinei que K era 0, pareceu-me bem e ainda hoje acredito que K é 0. às outras limitei-me a copiar as perguntas para a folha de exame.

voltei para casa com a certeza que tudo na vida tem um significado, um valor, até o raio do K.

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